“They” como pronome singular não binário

Saiba do que se trata o “they” como pronome neutro, como fazer a sua aplicação nas frases em inglês e a importância da linguagem inclusiva

A língua é um sistema vivo e dinâmico. Seja onde for, ela está em constante mutação, acompanhando a evolução permanente da sociedade. 

Ela absorve novas palavras, assume gírias e, de tanto ser usada, pode até contrair expressões. Isso acontece a todo momento, mesmo que de forma imperceptível.

Porém, toda transformação gera insegurança e, às vezes, incapacidade de aceitar mudanças de situações pré-estabelecidas. 

Na língua, isso não é diferente. 

É o caso do uso da linguagem neutra, não binária, que vem dando o que falar nos últimos anos.

Obviamente, essa não é uma discussão que envolve só a língua portuguesa. Na verdade, nos países de língua inglesa, esse é um debate ainda mais avançado. 

Por exemplo, você sabia que é possível – e, muitas vezes, até preferível – usar a palavra “they” como um pronome singular?

Isso pode causar desconforto em muita gente, porque, desde que começamos a estudar inglês, aprendemos que “they” é um pronome no plural e significa “eles” ou “elas”. Então, como é possível usarmos “they” no singular?

Para responder essa questão, é preciso contextualizá-la. E é isso que faremos a seguir.

“Singular they”: a importância da linguagem neutra e inclusiva

O inglês, como um todo, é bem mais neutro do que outros idiomas. É uma língua que não designa artigos masculinos ou femininos aos substantivos, por exemplo. 

E o uso de “they” no singular é, na verdade, mais antigo do que se imagina — muito anterior à discussão sobre os pronomes de gênero neutro.

Vamos, então, tentar explicar como o debate chegou até este ponto em que estamos.

Como muitos devem saber, pronomes são palavras que as pessoas usam para se referir a outras pessoas. Eles são uma forma útil de substituir substantivos, como nomes, por exemplo. 

Até pouco tempo atrás, os livros de gramática inglesa explicavam que existia apenas os pronomes de gênero he (“ele”) e she (“ela”) para se referir a um indivíduo na terceira pessoa (o pronome it é usado apenas para animais ou objetos).

Porém, a dicotomia “he” e “she” não deixa espaço para outras identidades de gênero.

O pronome neutro busca, justamente, criar uma terceira opção para os pronomes, além do feminino e o masculino. 

Assim, ele exerce um papel fundamental na luta das pessoas que não se identificam com nenhum dos gêneros, chamadas de não binárias, e que se mostram invisibilizadas pela atual forma com a qual os pronomes se apresentam. 

A discussão tem tomado corpo, sobretudo após alguns acontecimentos jogarem luz na questão. 

Um exemplo foi quando a congressista norte-americana Pramila Jaypal disse, em uma audiência sobre igualdade de gênero, que um de seus filhos não se conforma aos padrões socialmente construídos e usa o pronome “they”. 

Também pelo fato de artistas famosos, como Sam Smith, Ruby Rose, Elliot Page e Demi Lovato, terem assumido, nos últimos anos, identidade não binária e anunciado que iriam passar a adotar para si mesmos os pronomes “they” e “them”. 

O assunto também cresce como fogo em palha seca no meio intelectual. 

Em 2019, o Merriam-Webster, um dos dicionários mais importantes da língua inglesa, anunciou que iria expandir sua lista de pronomes e passaria a incluir os termos "they" e "them" no singular.

O fato é que ainda há muita resistência a adotar os termos neutros, sobretudo fora da comunidade LGBTQIA+.

Muitos argumentam que a construção fere a norma culta e que a militância está inventando uma linguagem que não existe.

Porém, defensores alegam que a língua é viva e, se os termos estão sendo usados e discutidos, eles já existem, sim.

Além disso, a maioria dos linguistas concorda que algumas nomenclaturas e linguagens para falar dessas pessoas não binárias já existiam há centenas de anos. 

Isso porque o uso de “they” como pronome singular data do século 14 e pode ser encontrado nas obras de grandes nomes, como Geoffrey Chaucer, Jane Austen, Lord Byron e Shakespeare. 

No século 18, esse uso foi contestado por especialistas sob o pretexto de que a gramática inglesa deveria refletir a gramática do latim. Consequentemente, o uso de “they” como pronome singular foi desencorajado na educação de língua inglesa. 

Porém, o “they” como pronome singular nunca saiu de uso na linguagem falada coloquialmente. 

Em parte, é por isso que o pronome singular “they”  ganhou mais legitimidade, sendo incluído no Oxford English Dictionary, considerado a Palavra do Ano de 2015 da American Dialect Society e reconhecido oficialmente no AP Style Guide.

Como usar “they” como pronome neutro?

Já vimos o porquê do “they” ser usado como pronome neutro e, agora, como usá-lo?

Se você não estiver familiarizado com o uso, pode se perguntar que tipo de verbo combina com esse pronome não-binário: é “they are” ou “they is”?

A resposta correta é que o verbo que soa mais natural é aquele a ser usado.

Ou seja, quando “they” é o sujeito de uma frase, usa-se sempre o verbo no plural, independentemente de “they” ser singular ou plural. 

Por exemplo, escreva “they are my friend”, não “they is my fried”. 

O mesmo ocorre com outros verbos: "They play soccer."

O singular "they" funciona de forma semelhante ao singular “you”. Embora “you” possa se referir a uma ou várias pessoas, na linguagem formal você deve escrever “you are”, não “you is”. 

Em situações do dia a dia de um falante nativo de inglês, as palavras abaixo costumam ter o “singular they” ligado a elas.

  • each
  • every
  • any
  • anyone/anybody
  • everyone/everybody
  • nobody/no one
  • someone/somebody
  • whoever

Confira, a seguir, alguns exemplos de uso do “singular they” e derivados nessas construções:

  • Whoever did this, they must be taken to jail. (Seja lá quem fez isso, deve ir para a cadeia.)
  • Everyone was absorbed in their own business. (Todos estavam envolvidos com seus afazeres.)
  • Nobody wants to return to the car park and find that their car has been towed away. (Ninguém quer chegar no estacionamento e ficar sabendo que seu carro foi rebocado.)
  • Each and every one of my colleagues at the university will express their own opinion. (Cada um dos meus colegas da faculdade expressará sua própria opinião.)
  • Everyone should take their books. (Todos deveriam levar seus livros.)
  • Every student should thank their teacher. (Todos os alunos deveriam agradecer seus professores.)
  • Someone left their umbrella at the office yesterday.

Como você pode ver, o uso do “singular they” sempre entra em cena quando o gênero do sujeito é indeterminado.

Conclusão

Obviamente, a discussão sobre uma linguagem neutra e não binária não acaba por aqui. 

O debate sobre o tema é extenso e complexo.

Porém, é importante entender que as línguas estão em mutação e evolução constante, acompanhando as transformações vividas pela sociedade.

Uma nova linguagem pode, sim, ser usada para descrever um novo capítulo da história da humanidade. Um capítulo mais agregador para integração das polaridades e transição para novas formas de consciência. Não só pelo respeito e visibilidade das pessoas não binárias, mas pelo bem de toda a coletividade.

Assim, usar os pronomes corretos de uma pessoa promove um ambiente inclusivo e é um sinal de acolhimento, empatia e respeito.

 Sidnei Agostinetti- CEO e fundador da Synonym Escola de Idiomas 

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