É preciso ter talento para aprender outros idiomas?

Muito se tem discutido ao longo dos anos sobre o contraste entre a grande facilidade de algumas pessoas desenvolverem a sua fluência em outras línguas e a quase, ou total, dificuldade que outros enfrentam. O maior ou menor grau de absorção da língua estrangeira (maior ou menor talento) sempre estará intrinsecamente ligado a vários elementos, a saber:

Idade

Um dos elementos mais notáveis é a idade. Por razões de ordem biológica e psicológica, quanto mais cedo iniciarmos o processo de aquisição, melhor. Contudo, se treinados dentro de uma metodologia (abordagem) correta, que resgate o processo natural, neurológico e emocional de aquisição da língua (aquele pelo qual todos nós passamos desde o nosso nascimento em nossa própria língua-mãe), é possível otimizar e acelerar o ritmo de assimilação do aluno, independente de sua idade.

Base linguística

Outro elemento importante é a base linguística da pessoa, ou seja, o grau de semelhança que a sua língua materna tem com o idioma objeto de seus estudos. Língua e cultura sempre andaram de mãos dadas, a saber, a facilidade com que alemães, holandeses, dinamarqueses e suecos, apresentam quanto ao aprendizado do idioma inglês. Isso acontece pelo simples fato de que a língua inglesa teve a mesma base do ramo germânico. Fica mais fácil no decorrer do processo, até mesmo de forma inconsciente, reconhecer fatores como sonoridade, entonação, significados e códigos de escrita.

Versatilidade linguística

Por muitas vezes a língua-objeto-de-estudo é a terceira língua do aluno. Aqueles que dominam apenas um idioma, tendem a depender quase que totalmente das estruturas da sua língua-mãe para estruturarem as suas ideias enquanto que as pessoas bilíngues comprovam ter uma maior versatilidade mental. Tal fenômeno ocorre porque aprender outros idiomas estimula certas funcionalidades cognitivas. Desta forma, é como se o cérebro “já estivesse preparado” para aprender.

Percepção auditiva

Este elemento é de extrema importância. O idioma é um fenômeno essencialmente oral, e o aparelho articulatório de sons do ser humano (cordas vocais, cavidade bucal, língua, etc.) mostra-se extremamente limitado quando comparado ao universo linguístico criado por sua mente (lembramos aqui que a mente é extremamente influenciada pelo fator emoção, intimamente ligada às memórias afetivas e ao campo dos desejos e estímulos!). Por isso é de extrema importância que o método proporcione ao aluno desenvolver a percepção quanto à frequência que o outro idioma é emitido/falado, para tornar o processo de conquista da fluência mais assertivo e rápido.

Vivência prática da língua

Assim como a química é melhor aprendida em laboratório do que na sala de aula, também as formas (palavras, expressões) da nova língua serão mais facilmente retidas na memória se vivenciadas em contextos reais de comunicação. Um aluno não precisa depender de cursos de imersão para vivenciar contextos reais. É possível, através de técnica e metodologia, trazer o aluno para contextos reais durante as aulas rotineiras. Desta forma, é notória a satisfação a partir de resultados imediatos conquistados dia após dia de forma cumulativa e definitiva, pois o aluno não só aprende - decora e repete, mas adquire o idioma - interioriza de forma vivencial!

Motivação

A motivação é uma força interior propulsora, de importância decisiva. Assim como no aprendizado em geral, aprende-se uma nova língua de modo ativo - jamais passivo. Trata-se de desenvolver uma nova habilidade. Através de uma metodologia aquisitiva, o professor não vai ensinar e sim conduzir o aluno para que possa desenvolver a percepção do outro idioma de dentro para fora. Estamos falando aqui de um trabalho intenso ligado ao “cérebro emocional”. Por consequência, a motivação entra como um fator capaz de vencer não somente a resistência, mas outros fatores como procrastinação, e falta de agenda.

Consciência e Independência

O pleno desenvolvimento da competência na língua estrangeira ocorre quando o aprendiz, além de ser movido por um interesse ou necessidade pessoal, assume o controle de seu próprio destino neste processo, adquire consciência de suas habilidades e de suas limitações, e desenvolve sua própria estratégia de sucesso, ao aprender a tirar vantagem de suas habilidades e compensar suas limitações. São fatores a serem tratados ao longo do caminho, mas é imprescindível que o aluno não se sinta dependente de nenhum professor ou programa específico. Em outras palavras, o aluno deve procurar interagir em outro idioma com pessoas e ambientes diversos, não somente na sala de aula, para que não tenha a percepção equivocada de que tem desenvoltura e segurança para falar outro idioma, quando na verdade estaria interagindo somente com seu professor. Principalmente no plano psicológico, o processo de independência é um elemento fundamental a ser conduzido por bons professores, mas também cuidado pelo aluno.

Tempo de dedicação e grau de envolvimento

Certamente, quanto mais tempo for dedicado ao contato com a língua objeto de estudo, maior será o grau de assimilação resultando na rapidez da aquisição da nova língua. Além do estudo em si, praticar em frente ao espelho, ouvir músicas no idioma estudado, assistir a filmes sem legenda, usar aplicativos no idioma objeto de estudo e fazer viagens a locais onde se fale a nova língua certamente darão um forte impulso no aprendizado.

Sidnei Agostinetti CEO e fundador da Synonym Escola de Idiomas.